A armadilha da depressão

A armadilha da depressão

Última atualização: 01 novembro, 2015

Estar deprimido é muito mais que se sentir triste, “para baixo” ou com vontade de chorar. Muitas vezes, dizemos que estamos deprimidos porque algo estressante, ou alguma situação delicada, aconteceu em nossa vida, mas após um período normal de tristeza adaptável, no fim das contas conseguimos superar e seguir nossa vida normalmente.

“Você criou sua depressão, ninguém lhe presenteou. Portanto, destrua a sua depressão”

– Albert Ellis –

Se, do contrário, não somos capazes, não sabemos como fazê-lo ou não temos os recursos para superar uma determinada situação, seja da relevância que for, poderemos cair nas garras da depressão.

A depressão é caracterizada por um estado de ânimo muito baixo e por uma perda visível de interesse por aquelas coisas que, antes, a pessoa gostava e sentia prazer em fazer. Perde-se a capacidade de desfrutar e não se tem vontade de fazer nada, chegando até uma inibição comportamental. A nível fisiológico, podemos nos sentir muito cansados, com insônia ou hipersônia e sem desejo sexual algum.

Mas por que nem todos nós ficamos deprimidos? Por que, mesmo passando por situações igualmente estressantes, nem todos reagem da mesma forma?

É evidente que nossa mente possui um papel importante nessas diferenças.

Sejamos realistas, há situações muito duras na vida, nas quais qualquer pessoa seria afetada de maneira importante. Mas, ainda assim, são nossos pensamentos e crenças que determinarão, em última instância, se iremos nos deprimir ou sair à tona.

Isso é uma boa notícia. É possível que a situação não tenha solução, mas isso não acontece com os pensamentos. Neste sentido, podemos dizer que temos uma margem de atuação e bastante controle.

Como nos deprimimos?

Há alguns anos, pensava-se que a depressão era uma doença física na qual as carências de uma série de neurotransmissores em nosso cérebro determinava nosso estado emocional. É verdade que substâncias químicas, como a serotonina, têm certa influência, mas não são o único fator implicado. Por isso, em muitas ocasiões, a terapia farmacológica acaba fracassando.

Para que uma pessoa chegue a ficar deprimida é necessário que, em seu ambiente, aconteçam mudanças vitais percebidas como desagradáveis. Fala-se da perda de reforçadores, ou seja, a pessoa perde algo que percebia como muito valioso e apreciado, como, por exemplo, um parceiro, um emprego, uma mudança de cidade ou a própria autoestima.

Quando a pessoa não enfrenta a situação, começará a se sentir esmagada e tremendamente triste, e alojará em sua mente pensamentos negativos sobre si mesmo, o mundo e o futuro. Logicamente, se você se sente tão mal assim, o que você menos vai querer fazer é sair, se relacionar com as pessoas ou fazer coisas para se divertir ou se esquecer… optará por ficar fechado, sem fazer nada ou deitado em sua cama.

É aqui que a depressão nos faz uma armadilha e nos fecha em seu espiral, de onde é muito difícil sair se nós não formos conscientes da importância dos nossos pensamentos, emoções e ações.

O círculo vicioso poderia ser resumido da seguinte maneira: a pessoa tem pensamentos sobre si mesmo: “Não sirvo para nada”; sobre o mundo: “As pessoas são ruins e não se pode confiar em ninguém”; e sobre o futuro: “Nunca encontrarei um trabalho digno nem me realizarei como pessoa”. Estes pensamentos fazem com que nos sintamos muito mal, desesperançosos e tristes, o que nos leva a perder o interesse por quase qualquer coisa.

Ao não realizar nenhuma atividade, não sair, não procurar trabalho, não conhecer nem se relacionar com ninguém, estou confirmando meus pensamentos negativos. “Eu não sirvo para nada”, e eu mesmo confirmo isso pois estou jogado na cama sem vontade de fazer nada. E além disso, esta atitude supõe mais perda de reforçadores que são adicionados à perda inicial.

Por exemplo uma pessoa que perde seu parceiro, perde um de seus reforçadores principais. E, não somente perde seu parceiro, mas também o jantar com ele, o beijo, o abraço, etc… que, por sua vez, também são reforçadores. A tristeza é tão grande que a última coisa que a pessoa tem vontade de fazer são coisas agradáveis, sair, conhecer gente nova, dedicar um tempo a alguma atividade…

Aí está o erro, pois, além de perder seu parceiro, perde a possibilidade de conhecer pessoas novas, de se divertir fazendo coisas novas, de encontrar um emprego… o que supõe mais e mais perdas.

Este círculo vicioso deve ser cortado por algum de seus pontos para que se possa sair do estado depressivo, e a forma de cortá-lo é que a pessoa comece a se ativar realizando coisas que não suponham muito esforço e que sejam agradáveis. É aí onde surgem os “Não tenho vontade…”, “Não dou conta…”. É possível que não tenha vontade, mas para fazer coisas não é necessário ter vontade, senão que se obrigar a ter.

A motivação não tem por quê preceder a ação. Depois da ação, a motivação virá sozinha e o desejo irá aparecendo cada vez com mais força.

O trabalho cognitivo é muito importante também, mas será desenvolvido em uma fase posterior ao começo da ativação comportamental. As pessoas deprimidas veem o mundo sob uma tonalidade obscura, interpretando a realidade de maneira disfuncional.

A reestruturação cognitiva será a técnica escolhida que permitirá à pessoa com depressão aprender a identificar seus pensamentos automáticos negativos, a avaliar sua utilidade e veracidade e a substituí-los por outros mais realistas e mais adaptáveis. Esta técnica é realizada por meio de perguntas que são feitas com o objetivo de questionar se o que a pessoa pensa é realista ou está sendo mediado por interpretações subjetivas.

A solução está em nossas mãos. Não aceite que sua felicidade dependa do exterior, de nenhuma situação, por mais horrível que seja. Você tem a capacidade de seguir em frente, se assim quiser. Embora você pense que já chegou ao fundo do poço e que já não é capaz, você pode sim! Mãos à obra e demonstre a si mesmo que a vida está lhe esperando de braços abertos.


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