Audrey Hepburn, retrato psicológico

Audrey Hepburn, retrato psicológico

Última atualização: 02 abril, 2015

Apesar dos mais de 20 anos passados desde a sua morte, Audrey Hepburn continua sendo um ícone atraente, que um dia Andy Warhol imortalizou em suas pinturas Pop Art. Seu rosto e sua figura vêm representar um modelo de eterna elegância e distinção que, ainda hoje, as novas gerações desejam imitar, apesar dos riscos. E um dos sentimentos transmitidos, desde sempre, pela clássica imagem de Audrey Hepburn espiando pelas vitrines da Tiffany, é que a beleza está associada à magreza.

Fato muito próximo da realidade na qual vivemos nos dias de hoje.   Os transtornos alimentares  sofridos pela atriz permaneceram, durante muito tempo, sob a pressão do silêncio. Para muitos, restou apenas o rostinho bonito representado por uma beleza frágil, que a moda tenta imitar; e são poucas as pessoas capazes de vislumbrar a mulher que superou a si mesma, para dar o seu melhor para os demais.

1. A obscuridade de uma infância

Os  traumas sofridos na infância  são as sombras que nos acompanham na maturidade, o sofrimento nunca vai embora de vez; ele permanece como um desafio a ser vencido. A infância de Audrey Hepburn foi marcada pela Segunda Guerra Mundial. Apesar de ser parente da nobreza holandesa, sua distinta posição mudou drasticamente no dia em que meio milhão de soldados alemães invadiram a Holanda; então os recursos e os alimentos começaram a ficar escassos. A fome e a desnutrição não só marcaram sua infância, como também marcaram sua adolescência; seus olhos tiveram que ver parte de sua família ser assassinada, como seu irmão, que foi levado a um campo de trabalho forçado alemão e foi acometido por uma doença, então ela precisou ganhar a vida da única maneira que podia: dançando; ajudando, assim, a resistência holandesa ao nazismo.

Quando a guerra terminou, Audrey Hepburn padecia de desnutrição, anemia, asma, problemas pulmonares e uma depressão que levou anos para ser superada. De acordo com ela, uma das melhores lembranças daquela época, e que a marcaria por toda a vida, foi a chegada humanitária das Nações Unidas trazendo mantas, comida, remédios e roupas… A bondade ainda parecia existir no mundo, e isso foi motivo para se ter esperança.

“Uma vez escutei a seguinte frase: A felicidade é ter saúde e má memória. Eu gostaria de tê-la inventado, porque ela tem toda a razão.” A. Hepburn

2. Anos dourados, anos de tristeza

Chegaram os triunfos: filmes como “Férias em Roma” ou “Bonequinha de Luxo” concederam-lhe o poder de estabelecer certo grau de influência e fama, situação em que é preciso saber mantar o equilíbrio.

Audrey Hepburn  era uma mulher inteligente e de grande sensibilidade, que sempre acertou nos papéis protagonizados; transmitia muito bem a emoção para cativar o espectador e, segundo suas próprias palavras, sempre precisou de afeto e compreensão, sentimentos que não pôde encontrar em seu casamento com Mel Ferrer; a tristeza era sua mais habitual companheira… uma sombra que se transformou em desespero, no dia em que sofreu o aborto de seu primeiro filho ao cair de um cavalo durante uma gravação.

A depressão e a culpa voltaram para a sua vida com a mesma intensidade do passado. Somou-se à depressão  a auto exigência, às vezes irracional. Sabia que parte de seu sucesso era baseado em seu físico elegante e delicado, foi aí que declarou o seguinte em uma entrevista: “Se no passado pude viver sem alimento, também posso fazê-lo agora. Eu me vejo obrigada a controlar a ingestão de comida”A anorexia nervosa foi uma cruel companheira, com a qual Audrey Hepburn viveu toda a vida.

“A medida em que você cresce, descobrirá que tem duas mãos: uma para ajudar a si mesmo e outra para ajudar o próximo.” A. Hepburn

audrey hepburn ajudando

3. A simplicidade da felicidade

Os anos de tragédia e de perdas na guerra jamais foram apagados da mente de Audrey Hepburn, sua necessidade de encontrar o amor também não foi totalmente satisfeita: dois casamentos desfeitos e várias decepções foram, frequentemente, a lâmina que recortava suas  noites de insônia; era daí, então, que crescia a vontade de ajudar, dar afeto e carinho às pessoas necessitadas.

Foi então que, em 1988, o cinema ficou praticamente esquecido de sua vida, quando dedicou entre seis meses e um ano à UNICEF, ao fundo de emergência para a infância. O verdadeiro segredo da felicidade, para ela, nunca foi a exitosa carreira como atriz, ou a admiração que tinha do público, mas sim a ânsia que tinha em receber afeto e a necessidade em oferecer carinho aos demais. Às vezes, a porta para a satisfação não está no ponto mais alto; está simplesmente em nós mesmos.

Fonte: “Audrey Hepburn, an intimate portrait”. (Diana Maychick, 1994)


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.