Carta a quem me magoou

Carta a quem me magoou

Última atualização: 09 outubro, 2015

Eu escrevo esta carta para você, mas você nunca a lerá. Você me fez mal, muito mal. Na natureza não há justiça, e eu continuo a sofrer. Mas hoje eu percebi que, de alguma forma, eu tenho que tirar de dentro de mim a profunda tristeza que sinto, e é isto o que eu vou fazer agora, nesta carta a quem me magoou.

Desconfio do rancor e da mágoa porque estes não são bons amigos, então não me querem bem. Além disso, o ressentimento e a mágoa levam ao medo, e este é o que precisamente necessita desaparecer. Não que eu sinta medo de você, temo sim ter que reviver o meu sofrimento e voltar a cair no mesmo erro.

Então, decidi que tenho que enfrentá-lo, cara a cara, e falar tudo o penso; se apenas em minha mente ou não, vou fazer valer esta oportunidade. Se eu diminuir este medo eu vou também diminuir todos os outros.

Eu queria voltar a confiar em você, sabe? Na verdade, não peço nada de extraordinário, mas se eu tivesse conhecido melhor as suas características, eu não teria permitido que você me machucasse tanto. Nunca vou esquecer quão insuportável é a dor que você me causou. Depois de tudo, o que tenho para lhe dizer é “muito obrigado”, por ter me ensinado algumas coisas.

“Quando você mantém algum ressentimento em relação a uma outra pessoa, você está se amarrando a essa pessoa ou situação, por uma ligação emocional que é mais forte que o aço. O perdão é a única forma de dissolver esse link e conseguir a liberdade” 

– Catherine Ponder –

Eu aprendi que você não pode dar a alguém algo ele não quer receber. Você permitiu-se o luxo de me deixar isso muito claro.

Sim, hoje eu percebo que você era tão ruim para mim que me impediu de progredir por muito tempo.

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Como alguém disse uma vez: “o verdadeiro ódio é a abnegação, e o assassinato perfeito é sempre esquecido”. Eu não acho que atirar uma pedra para cima seja uma boa ideia, uma vez que ela pode cair na minha própria cabeça. Certamente isto não traz felicidade, e eu também não gostaria de acrescentar miséria à minha vida.

Dizem que sangrar não dói, que é prazeroso, que é como se você se dissolvesse em óleo e passasse a respirar profundamente. A dor na alma de algum modo anestesia e, muitas vezes, você não se torna ciente do que está assumindo para si até que seja tarde demais.

Talvez eu esteja escrevendo isso com lágrimas de sangue e pura dor, mas eu estou tomando o controle do leme, porque eu decidi ir mais longe e superar o que você me provocou.

Devo dizer-lhe que eu escrevo isto porque por trás da minha coragem há também uma grande tristeza, uma humilhação infinita e uma delicada decepção. Eu me sinto acima de um vulcão, enquanto minha vida está por um fio, então eu tenho que largar a carga pesada e apagar o que você me ocasionou por dentro.

Eu preciso de muito pouco para estar bem e é por isso que essa dor e essa mágoa têm que sair de mim. A partir de hoje eu não vou mais guardar rancor ou raiva, eu não quero coisas desnecessárias em meu coração. Toda experiência dolorosa está fechada dentro de uma semente de crescimento e de libertação.

A realidade é que hoje eu me perguntei se poderia fazer algo que valesse a pena, então eu decidi escrever esta carta a quem me magoou, você. Ao contrário do que você possa pensar, esta carta não é para você, é para mim, porque eu preciso dela para liberar das minhas costas o peso deste fardo. Parei para pensar e decidi que eu não quero nada de negativo na minha vida, nenhuma mágoa, e eu percebi que aqui está você, tudo o que me fez, e a forma como eu me sinto.

Notei que libertar-me de você é o maior ato de amor próprio que eu poderia exercer. Hoje posso dizer que você está me fazendo um favor, porque agora, mais do que nunca, eu não quero que o meu corpo sirva de sepultura para a minha alma. Eu posso lidar com tudo o que está dentro de mim. Não tenho medo de viver, porque tudo o que tenho que fazer é que reaprender a ser feliz.

Imagens de Marc e Larissa Kulik


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